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Análise de Mateus 17.14-21 em relação ao jejum

  • eduardodimi
  • 17 de jun. de 2020
  • 29 min de leitura

E, quando chegaram à multidão, aproximou-se-lhe um homem, pondo-se de joelhos diante dele, e dizendo: Senhor, tem misericórdia de meu filho, que é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água; E trouxe-o aos teus discípulos; e não puderam curá-lo. E Jesus, respondendo, disse: Ó geração incrédula e perversa! até quando estarei eu convosco, e até quando vos sofrerei? Trazeimo aqui. E, repreendeu Jesus o demônio, que saiu dele, e desde aquela hora o menino sarou. Então os discípulos, aproximando-se de Jesus em particular, disseram: Por que não pudemos nós expulsá-lo? E Jesus lhes disse: Por causa de vossa incredulidade; porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível. Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum. Mateus 17:14-21

14-και ελθοντων αυτων προς τον οχλον προσηλθεν αυτω ανθρωπος γονυπετων αυτω 15-και λεγων κυριε ελεησον μου τον υιον οτι σεληνιαζεται και κακως πασχει πολλακις γαρ πιπτει εις το πυρ και πολλακις εις το υδωρ 16-και προσηνεγκα αυτον τοις μαθηταις σου και ουκ ηδυνηθησαν αυτον θεραπευσαι 17-αποκριθεις δε ο ιησους ειπεν ω γενεα απιστος και διεστραμμενη εως ποτε εσομαι μεθ υμων εως ποτε ανεξομαι υμων φερετε μοι αυτον ωδε 18-και επετιμησεν αυτω ο ιησους και εξηλθεν απ αυτου το δαιμονιον και εθεραπευθη ο παις απο της ωρας εκεινης 19-τοτε προσελθοντες οι μαθηται τω ιησου κατ ιδιαν ειπον δια τι ημεις ουκ ηδυνηθημεν εκβαλειν αυτο 20-ο δε ιησους ειπεν αυτοις δια την απιστιαν υμων αμην γαρ λεγω υμιν εαν εχητε πιστιν ως κοκκον σιναπεως ερειτε τω ορει τουτω μεταβηθι εντευθεν εκει και μεταβησεται και ουδεν αδυνατησει υμιν 21-τουτο δε το γενος ουκ εκπορευεται ει μη εν προσευχη και νηστεια Mateus 17:14-21

Alguns textos variam a interpretação de acordo com uma ciência conhecida como “crítica textual” está linha de estudo vem sendo difundida afim de cooperar com a interpretação correta das escrituras, o texto acima necessita desta ciência para explorarmos todas as suas possibilidades interpretativas, atingindo a principal variante do texto, iremos se aprofundar nestas questões.

A perícope esta limitada a ação de cura do lunático, nos versículos anteriores ao 14, o escritor se detém a falar sobre a transfiguração, nos versos posteriores ao 21, Jesus fala de sua morte, ressurreição e tributo.

Marcos relata uma ordem parecida com a de Mateus. Mc 9.2-13 fala sobre a transfiguração, omite a história sobre o pagamento do tributo de Jesus, saltando direto para a história do maior no reino dos céus na visão de Jesus (Mc 9.30), a versão da cura do lunático em Marcos, encontra-se delimitada nos versos 14-29, Marcos acrescenta alguns detalhes omitidos por Mateus.

Lucas deixa a ordem cronológica similar aos anteriores. Lc 9.28-36 fala sobre a transfiguração, os versos 46-48 citam a história do maior no reino dos céus, após isso é mencionado uma história omitida por Mateus e Marcos, refente aos Samaritanos não receberem a Jesus, sua versão do jovem lunático é delimitada aos versos 37-45.

Durante o estudo, vamos priorizar as informações contidas em Mateus, entretanto, consultaremos outros evangelistas quando for necessário, tendo estabelecido os textos a serem examinados, podemos avançar para a primeira pergunta concernente ao assunto, o que significa jejum?

A concepção de Jejum varia de acordo com valores religiosos e históricos, em sua definição mais simplória, significa “privação de comida ou redução de alimentos durante um período”, os motivos variam entre medicinais e religiosos, vamos destacar as razões religiosas, após estudar a palavra Jejum a fundo.

Augusto Schleicher (1821-1867) entendia a língua como “um organismo vivo” está metáfora serve para falar sobre e evolução da língua atrelada a teoria da evolução de Darwin, vamos tentar desenvolver um estudo diacrônico sobre a palavra.

(Metalinguagem e discurso (2. ed.) Por Marli Quadros Leite, pg 82)

(Língua Portuguesa: Da Oralidade À Escrita, PG 79)

Jejum, começa por uma letras Ramista, sabemos que nem sempre o alfabeto conteve o J nele, uma explicação detalhada do assunto é abordada no livro (Do Latim ao Português: Rudimentos de Filologia e História da Língua .portuguesa, Por Húdson K. P. Canuto). sabemos que não conseguiremos encontrar tais letras ramistas anterior ao período de 1512 (data de nascimento Pierre de la Ramée). recorrendo ao mesmo texto na bíblia vulgata, encontramos a palavra “Ieiunium” representando jejum, tendo ciência que o Latim deu origem ao português, concluímos que essa é a forma primitiva da palavra. para acompanhar o processo de evolução da língua Portuguesa, recomendamos a leitura do livro (Moderna Gramática Portuguesa, 39 edição, Evanildo Bechara, pg 27-31).

(Bíblia Sacra, Vulgatae Editionis Sixti V. et Clementis VIII, Pontt. Maxx. Jussu Recognita Atque Edita, pg 1540)

Jejum (termo atualizado) – Ieiunium (Latim) a formação do Latim é obscura, não conseguimos continuar remontando a origem dá palavra em foco, a formação do alfabeto latino é originada do alfabeto etrusco e Grego, estes por suas vez são derivados do alfabeto fenício.

Ieiunium significa: jejum, abstinência, privação de alimento, magreza, fome e sede.

(Dicionário do latim essencial, 2 edição revista e ampliada, Antônio Martinez de Rezende pg 190)

O Grego contém a palavra νηστεια para Jejum. É atestado em algumas ocasiões, como; o jejum público anual dos judeus, o grande dia da expiação, que ocorre no mês de tisri, corresponde a lua nova de outubro, At 27.9; Mc 9.29; 1 Co 7.5.

Abstenção de alimentos, por necessidade, fome 2 Co 6.5; 11.27, ou um rito cultual Mt 17.21.

(Dicionário do grego do novo testamento, Carlo Rusconi, editora Paulus, pg 319)

(Léxico analítico do novo testamento grego, William D. Mounce, editora vida nova, pg 427)

(Léxico do novo testamento Grego/Português, F. Wilbur Gingrich, edições vida nova pg 140)

(Dicionário Grego de strong, Grego/Inglês, pg 340)

No hebraico para jejum temos a palavra “צום”, significando o ato de uma pessoa privar o corpo de ingerir alimento como sinal de tristeza, podia ser em favor de alguém, com o propósito de obter a atenção de Deus, auxílio na tomada de decisões difíceis, em alguns tipos de crises e ao descobrir o pecado de alguém.

(Dicionário internacional de teologia do antigo testamento, R. Laird Harris, pg 1271-1273)

(Kohler Baumgartner, the Hebrew and Aramaic Lexicon of the old testment, pg 2208-2209)

(Léxico hebraico e aramaico do antigo testamento, William L. Holladay, vida nova pg 432)

(Novo dicionário internacional de teologia e exegese do antigo testamento, vol 3, Willem A. VanGemeren, phd, pg 776-778)

Podemos enfatizar que no antigo testamento, percebemos o jejum em muitas ocasiões, entretanto, não há um único texto que o enfatize para expulsar demônios, e no novo testamento, só podemos desprender este ensinamento dos textos acima citados a qual serão analisados com o auxílio da crítica textual.

As fontes judaicas consultadas a qual falam a respeito do jejum, atrelam ele a dias especiais como; Yom Kipur entre outros, a crença de um jejum que expulse demônios parece ser inexistente aos judeus que são os leitores mais capacitados do antigo testamento.

Se no antigo testamento, o jejum não tinha validade para expulsar demônios, a única forma de validar esta doutrina, seria caso um escritor do NT a registrasse.

Como escritores anteriores aos bíblicos, olhavam para a pratica do jejum?

Na epopeia de Gilgamesh, uma lenda que conta a história de um rei sumério por volta de 2700 a.C. seu relato mais completo provém de uma tábua de argila escrita em VIII a.C. pertencente ao rei Assurbanipal, entretanto foram encontradas tabuas com excertos datados em XX a.C.

O jejum aparece 4 vezes em sua obra, todas aparecem após uma determinada caminhada em léguas, o texto diz somente “eles quebraram seu jejum”.

(A epopeia de Gilgamesh, Martins Fontes, pg 73, 75, 107-108)

O budismo tem um jejum com a finalidade de diminuir as demandas do corpo, proporcionando uma mente mais livre para seguir um caminho mediativo, a data de Sildarta Gautama é de 563-483 a.C.

Tradições mais recentes, estão registradas no alcorão, segundo algumas tradições o profeta Maomé recebeu as revelações entre 610-630 d.C. em Al Bacará (A vaca) 183-187 fala do jejum, mostrando que na cultura Islâmica o jejum se encontra também.

(Alcorão, Al Bacará, pg 183-187)

No hinduísmo temos as quatro obras denominadas de Vedas, a sua compilação varia de 1500-2000 a.C. depende do método adotado na datação, costumam jejuar no dia chamado Ekadashi, o jejum serve para ativar a consciência espiritual, na Índia tem um curioso ritual de jejum até a morte, conhecido como santhara, a monja Sadhvi Charan Pragyaji jejuou por 87 dias, morreu aos 60 anos, em 2009 foram cerca de 550 pessoas que fizeram tal juramento.

O Jejum foi adotado por algumas pessoas importantes na área do conhecimento, Pitágoras, Sócrates, Platão e Lupelius jejuaram também, destacando Pitágoras, além de realizar um jejum de 40 dias, recomendava aos seus alunos que fizessem o mesmo, Hipócrates o fazia por razões medicinais.

Concluímos que biblicamente, o antigo testamento contém o jejum por razões festivas, para tomar decisões importantes e em busca da atenção de Deus, entretanto nenhum jejum é para expulsar demônios, nas diversas culturas o jejum é ligado a varias coisas, Gilgamesh fala sobre ele na sua jornada, os judeus o consideram em dias festivos, os adeptos ao islamismo o realizam sobre o mês do Ramadão, o Hinduísmo o realizam no Ekadashi e vimos que existem jejuns até a morte, exemplificado por Sadhvi Charan Pragyaji, alguns filósofos também adotaram tais praticas, mas não conseguimos ligar a praticas taumatúrgicas referente a expulsão de demônios. refletiremos sobre os fatores que influenciam o texto a partir de agora.

O Jovem Lunático.

Há duas coisas necessárias a serem refletidas no texto, o conhecimento científico dos escritores e a definição de taumaturgo, o conhecimento científico busca diferenciar demônios de problemas psicológicos, um exemplo a citar é a epilepsia, doença psicológica atrelada a possessão demoníaca, tal termo provem do Grego ἐπιληψία que provem de duas palavras, “Epi” significa, de cima, e “lepsem” significa abater, acreditava-se que era algo que provinha de cima e abatia a pessoa, por isso o distúrbio continha um caráter místico e religioso, algumas fontes da internet assemelha o menino do texto com uma crise epilética.

Crise epiléticas são constatadas desde 500-700 a.C. algumas lápides de pedra provenientes da Babilônia contém algumas observações da epilepsia.

(Psicologia no consultório odontológico, Sônia Wolf, Arte e Ciência editora, pg 137)

(Subsídios para formação de Ministérios Extraordinários, Pe. Guillermo Daniel Micheletti, Editora vozes)

(J. Konings, A bíblia passo a passo, Marcos, Edições Loyola pg 41)

(Viagem aos céus e mistérios inefáveis: A religião de Paulo de Tarso,Sebastiana Maria Silva Nogueira, editora Paulus)

(Da Manjedoura A Emaús, Wesley Caldeira)

(Epilepsia en la niñez, Fernando Sell Salazar, Editorial Tecnológica de Costa Rica, pg 179-182)

(Epilepsia, Lennart Gram, Mogens Dam, Editorial Medica panamericana, pg 21-25)

(The Oxford Companion to the Bible, editado por Bruce M. Metzger, Michael David Coogan, pg 191)

Taumaturgo tem como definição “Quem faz ou supostamente é capaz de fazer milagres; milagreiro.” a cura de um lunático/endemoniado é um milagre, independente de qual dos dois eram, Jesus o curou e sem dúvida era trabalho de um taumaturgo.

A pratica de expulsar demônios foi se desenvolvendo ao longo do tempo, Flávio Josefo escreve sobre as práticas de Salomão como exorcista, cita Davi e Eleazar, este último merece uma enfase, Flávio Josefo afirma que viu ele em ação, ele utilizava uma planta chamada Bara em seus rituais. era comum se utilizar plantas em praticas exorcísticas, outro exorcista é Hanina Ben Dosa, este viveu em 70 d.C. os pagãos continham seus exorcistas, Apolônio de Tiana (4 a.C. - 90 d.C.), O Sírio anonimo da Palestina, Os papiros mágicos gregos, datados entre II a.C. - V d.C.

(Manual de Demonologia, 2 edição, Carlos Augusto Vailatti, fonte editorial, pg 114-141)

(História dos Hebreus, Flávio Josefo)

Após toda a glória demonstrada no monte da transfiguração, Jesus desce e vê a falha de seus discípulos, Pedro, Tiago e João estavam com ele no monte, excluindo-se dessa falha causada pela ausência de fé, o pai estava frenético, seu único filho segundo Lc 9.38. estava com algo que eles atribuíam a “demônios” e somente anos mais tarde se iniciaram estudos científicos na área da psicologia capazes de ajudar o menino, a essa altura a fama de Jesus corria pela região, o pai procurou os discípulos primeiro, atitude correta, Mt 10.1 esclarece que Jesus tinha outorgado tal poder aos discípulos, após a falha não desistiu e procurou a Jesus, este era capaz de resolver o problema, Mc 9.14-17 mostra os escribas se aproveitando da situação, após a falha dos discípulos de curarem o menino, estes disputaram com eles afim de induzir a multidão ao ceticismo de seus atos, os 3 sinópticos relatam sintomas diferentes, Mateus diz que o menino caia na água e fogo (Mt 17.15) Marcos diz que o menino era mudo, despedaça, espuma, range os dentes (MC 9.17-18) e Lucas relata que o menino clama, despedaça, espuma e convulsiona (Lc 9.39, 42) com todos esses sintomas, poderíamos colocar em cheque o fato de Marcos afirmar que o menino é mudo enquanto Lucas diz que o menino clama? Não seria uma diferença significativa no relato? A palavra traduzida como mudo em Marcos é “αλαλον” significa aquele que não fala, privado de palavra, incapaz de articular, prosseguindo a leitura extraímos que o menino era surdo (Mc 9.25). em alguns casos a surdez leva as pessoas a serem incapazes de articular palavras, é difícil aprender a falar sem ouvir, a palavra Grega κωφον, representa alguém insensível quanto a audição, Aristóteles (384-322 a.C.) notou que “aqueles que são surdos ficam todos sem fala, eles têm uma voz, mas estão privados da fala” prosseguindo essa posição, Galeno, um médico Grego (131-201 d.C.) levanta uma teoria que fala e audição estão ligados no cérebro, assim os surdos jamais poderiam aprender a falar, concluímos que Marcos relata que o menino era surdo, consequentemente produzia sim sons, entretanto não conseguia formular palavras e nem frases inteligíveis, atualmente a sociedade é excludente, naquele tempo era muito mais excludente, não é difícil entender as dificuldades que o menino teria que enfrentar, acompanhe como os surdos eram vistos:

Os Romanos consideram os surdos imperfeitos, sem direito a cidadania. Não tinham o direito de celebrar contratos, elaborar testamentos e ate de possuir propriedades ou reclamar heranças. Exceto aos surdos que conseguiam falar. (CARVALHO, 2007).

Na Grécia os surdos eram considerados como indivíduos incapazes. Aristóteles ensinava que os surdos por não terem linguagem, seriam incapazes de raciocinar.

O historiador grego Heródoto, que viveu por volta do ano 444 a.C. classificava os surdos como seres castigados pelos deuses.

Santo Agostinho defendeu a ideia de que os pais de filhos surdos estavam a pagar por algum pecado que haviam cometido.

Séneca cita “Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis”.

Lv 19.14 ordena a “não amaldiçoar os surdos” fazendo os Judeus serem um povo que incluía eles na medida do possível, inferimos que o pai não aguentava mais aquela situação, a afirmação “caí no fogo e muitas vezes na água” transmite a ideia de que o menino podia ter queimaduras pelo corpo, causada pelas vezes que caiu no fogo, afim de evitar isso, o pai deveria manter constante vigilância, pense a respeito, quem salvava o menino quando este se jogava no fogo ou aguá? A bíblia não responde essa pergunta, acreditamos ser razoável acreditar que o pai o salvava, dependendo de sua classe financeira, os seus servos o salvavam, em qualquer local o fato de se colocar de joelhos demonstra súplica, com tantas dificuldades, o pai não sabia o que fazer e como viver com isso. Mc 9.21 mostra que o sofrimento durava por muito tempo.

Percebemos outra dificuldade, o misticismo, o próprio termo lunático provinha da crença que a lua influenciava as pessoas a loucura, não sabemos exatamente quando e como essa crença se iniciou, ao comentar o Salmo 121, abordamos o assunto com mais detalhes, a lua foi vista como divindade por diversos povos, os Romanos tinham Diana, Ishtar era ligada a lua também na Babilônia, os Gregos tinham Ártemis, Selene e Hécate.

O termo grego traduzido como lunático, é um verbo presente, passivo/médio, indicativo da terceira pessoa do singular, derivada de σελήνη cujo significado é lua, Liddell acrescenta que significa “ser atingido pela lua, epilepsia” utilizando esse texto como referência, entendemos a crença de elementos místicos atribuídos a lua sobre o menino epilético.

A repreensão de Jesus é um dos elementos mais enigmáticos do texto, entre os comentaristas não se encontra um consenso sobre quem seria o público-alvo da fala do verso 17 de Mateus, seriam os discípulos, o pai do menino, a multidão que observava o que estava ocorrendo, ou seriam os escribas mencionados em Marcos? A resposta não parece ser evidente, posteriormente Jesus esclarece que os discípulos tinham ausência de fé Mt 17.20. o pai do Menino tinha uma declaração confusa segundo Mc 9.24. afirma crer, entretanto pede auxilio em sua incredulidade, os escribas sempre foram incrédulos e não temos esclarecimentos sobre a multidão que rodeava o local, responderemos a primeira pergunta afirmando que a repreensão de Jesus foi para todos, eles eram uma geração incrédula, o contexto não deixa exatamente claro o público de sua fala, incredulidade era característica de todos eles.

Jesus cura o menino lunático, Marcos acrescenta que o menino estava como morto, até Jesus o erguer, após entrarem em uma casa, os discípulos que falharam perguntam “por que não pudemos expulsar o demônio?” e a resposta polemica vem de Jesus “esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e jejum” parece simplória a explicação, mas e se a palavra Jejum foi acrescentada ao texto?

Quais manuscritos depõe a favor do jejum?

Por que as pessoas pregam que existem demônios que só podem ser expulsos com jejum?

Qual o interesse do escriba em acrescentar tal informação? Caso não foi acrescentada, qual o desejo do escriba em retirar a informação?

É possível determinar para longe de qualquer questionamento qual é o texto que estava contido no autógrafo?

Jesus validou o jejum para expulsar demônios, ou o texto apresenta outra interpretação?

Começaremos a obra da crítica textual.

Os trechos que concentram o maior número de variantes textuais, iniciam no verso 20, para facilitar o encontro delas, foi destacado no texto algumas palavras com cores diferentes (vermelho e azul claro) as variantes azuis apresentam ser pouco significativa, variantes vermelhas são de maior relevância.

A primeira se encontra em uma divergência do texto Grego encontrado na internet, com o texto Grego encontrado no novo testamento interlinear.

Ειπεν – encontrado na internet, é um verbo aoristo, ativo e indicativo da terceira pessoa do singular, ele esta seguido do substantivo ιησους, considerado um substantivo masculino, nominativo e singular, percebemos essa pequena diferença.

As bíblias Grega iniciam o verso 20 omitindo o substantivo ιησους, e trocando a palavra Ειπεν pelo verbo λεγει, considerado um verbo presente indicativo ativo da terceira pessoa do singular.

A próxima variante que vamos colocar em evidência é μεταβηθι εντευθεν uma seguida da outra, μεταβηθι é um verbo aoristo do imperativo ativo dá segunda pessoa do singular, significa mudar de lugar, deslocar-se, ir embora e etc...

εντευθεν é apenas um advérbio que significa dali, de lá, daqui.

μεταβα presente na bíblia interlinear, é um verbo imperativo aoristo ativo da segunda pessoa do singular, significa mudar de lugar, deslocar-se, notamos que segundo o léxico consultado, mesmo contendo terminações diferentes, o sentido permanece o mesmo.

ενθεν é somente um advérbio, significa até este lugar, aqui neste lugar, aqui.

Percebemos que a diferença principal entre as variantes sem importância (azuis) é sobre o tempo do verbo, oscilando entre presente e aoristo, resumidamente, ambos veiculam a ideia de uma ação concluída no texto, a omissão do nome de Jesus, pode ser inferida com a ajuda do contexto próximo, podemos levantar a hipótese de que o nome foi posto para mudar algo implícito para explícito, o nosso olhar atento captou a importância de Jesus ao verso, indiferente se o nome esteja ou não.

O verbo e advérbio destacado, são sem importância, não podem alterar o texto significativamente,

vamos prosseguir para as variantes mais importantes.

(Gramática do grego do novo testamento, James Swetnam, volume 1, editora Paulus, pg 60, 117)

απιστιαν – substantivo acusativo feminino singular, significa infidelidade e incredulidade.

Ολιγοπιστιαν – substantivo acusativo feminino singular, significa pequenez de fé, fé escassa, pobreza de fé.

O motivo dos discípulos serem incapaz de expulsar o demônio, era por ter uma fé pequena ou serem incrédulos?

Supondo que o substantivo “apistian” fosse a forma original contida no autógrafo, podemos dizer que os 9 discípulos de Cristo tinham uma ausência total de fé naquele momento?

Outra variante mais importante aparece no verso seguinte, conseguimos ver claramente que o verso 21 inteiro é omitido em alguns manuscritos, acredita-se que o escriba tenha importado ele de Mc 9.29, é comum eles completarem um texto utilizando um de outro evangelista.

Tendo todas as variantes expostas, vamos olhar os manuscritos.

Listaremos o nome do manuscrito, século, instituição, cidade e estado.

Perceba que este códice sinaítico consta Ολιγοπιστιαν (pequena fé) e omite o nome de Jesus no verso 20, é um uncial, a sua leitura é difícil pois não contém as palavras separadas, entretanto o seu final é o mais importante, observe a última linha, a penúltima palavra υμιν é a última palavra do verso 20, entretanto ele inicia o verso 22 em seguida, com a palavra συστρεφομενων (estando reunidos), conseguimos ver a omissão do verso 21 claramente, tal verso explica que algumas castas não saem sem jejum e oração.


O manuscrito acima continua sendo o sinaítico, entretanto destacamos o texto de Mc 9.29, perceba que após a palavra προσευχη (oração) foi acrescentado a expressão και νηστειαν (e jejum)

perceba que as letras são menores e os seus traços mais finos.

Concluímos que no códice sinaítico a expressão “e jejum” foi acrescentado, pois em Marcos 9.29 a expressão “e jejum” contem uma grafia diferente, em Mateus 17 é omitido o verso 21 inteiro.

O próximo manuscrito contém excelente relevância ao nosso estudo.


O texto acima pertence ao códice Vaticano, contém o verso de Mt 17.20.

O texto acima é de Mc 9.29.

Aqui percebemos que ele consta o termo Ολιγοπιστιαν (pequena fé) e omite o nome de Jesus, os grifos em azul contém as variante de menor relevância.

O mais importante é o final, perceba que ao encerrar o verso 20 com υμιν o manuscrito omite o verso 21 inteiro, iniciando o verso 22 com a palavra συστρεφομενων (estando reunidos), note que este manuscrito atesta o mesmo que o anterior.


O texto acima pertence a Mc 9.29. observe que a última palavra pertencente ao verso 29 é προσευχη (oração). ele não contém a expressão “και νηστειαν” pulando para o verso 30.

Percebemos que o códice vaticano não apoia o acréscimo de jejum para expulsar demônios, em ambos os evangelistas.

Observaremos outro códice.

Este manuscrito difere dos examinados acima, consta o nome de Jesus abreviado em uma forma conhecida como “nomina sacra”. Bruce Metzger listou 15 nomina sacra referentes a nomes divinos, o texto contém ΙΣ referente a Jesus, seguido de Ειπεν estas variantes são insignificantes olhando o contexto inteiro, a próxima variante encontrada é na palavra απιστιαν (infidelidade, incredulidade) segundo este manuscrito, o dito de Jesus afirma que eles eram incrédulos, mas uma variante se destaca de todas as outras, este manuscrito contém o verso 21 de Mateus, acrescentando a necessidade do Jejum afim de expulsar alguns tipos de demônios.

A palavra ερειται não foi localizada em nenhum léxico, as páginas do novo testamento não contém ela, se encontra em uma minoria de códices, deixando altamente improvável estar correta, utilizamos uma tabela para a localizar, entretanto não foi encontrada.

Outra palavra intrigante ορι perceba que esta faltando uma letra na palavra, este termo não foi encontrado na bíblia, o copista esqueceu de acrescentar uma letra, ὄρει seria o termo correto e este significa “montanha, monte e colina”.

O manuscrito pode acrescentar o verso 21, entretanto contém variantes complicadas, o copista esqueceu de acrescentar uma letra em uma palavra (ορι) e cita outra que não aparece em local algum (ερειται) deixando difícil dizer a correta declinação dela.

O manuscrito é claramente inferior aos 2 primeiros citados.

O manuscrito abaixo contém o texto de Mc 9.29.

Percebemos claramente ao final do versículo 29 é acrescentado a expressão και νηστειαν (e jejum) portanto o códice alexandrino favorece esta versão do texto, mas lembraremos que ele pertence ao século V. significa que a sua grafia é posterior aos textos analisados.

O próximo manuscrito a ser observado esta em um estado lamentável, quase ilegível, por este motivo estarei utilizando sua transcrição feita a partir de um site, pois esta concorda com a informação do aparato crítico.


O códice é totalmente ilegível, a imagem é somente para ilustrar o quão difícil é entender diretamente no manuscrito, o texto examinado não foi encontrado nele.

ο δε ΙC ειπεν αυτοις δια την απιστιαν υμων· αμην γαρ λεγω υμιν οτι εαν εχητε πιστιν ως κοκκο- σιναπεως εριτε τω ορει τουτω μεταβηθι εντευθεν εκει και μεταβησεται και ουδεν αδυνατησει υμιν·

Mateus 17.20

Τουτο δε το γενος ουκ εκπορευεται ει μη εν προσευχη και νηστεια·

Mateus 17.21

Segundo este manuscrito, o nome de Jesus aparece através de um nomina sacra, a expressão apontada por ele é απιστιαν (infidelidade, incredulidade) este manuscrito apoia esta visão das palavras de Jesus, outras variantes de menor importância são a expressão μεταβηθι εντευθεν a qual comentamos logo no inicio, este manuscrito se assemelha muito com o códice Washingtoniensis, ele contém o verso 21 de Mateus, ou seja, apoia a leitura do jejum para expulsar demônios.

Olhe atentamente o próximo manuscrito, o texto é Mt 17.20-21.


Este manuscrito acrescenta claramente o verso 21, apoiando o jejum para expulsar demônios.

Vamos observar um papiro muito relevante para o nosso estudo, este é o mais antigo dos manuscritos analisados.

O texto acima pertence a Mc 9.29.

O texto está fragmentado conforme se pode ver, após a linha vermelha contém a frase “Καὶ εἶπεν αὐτοῖς/ e disse a eles” equivalente ao inicio do versículo 29 de Marcos, o final está danificado pelo tempo, então a próxima linha inicia com a expressão “ναται/ pode” as duas primeiras letras da palavra não aparecem, pois as bordas do manuscrito se perderam, a palavra completa é “δύναται” olhando outros manuscritos, percebe-se a ausência de algumas palavras perdidas nas bordas do manuscrito “Τοῦτο τὸ γένος ἐν οὐδενὶ δύ” estas 22 letras não constam, pois estavam nas bordas do papiro, o final visível do verso 29 deste manuscrito termina com a palavra “προσε/ oração” mas novamente esta faltando as letras finais, a palavra completa seria “προσευχῇ” a próxima linha grifada de azul, pertence ao verso 30, inicia com a palavra “ελθοντες/tendo” esta faltando duas letras da palavra, pois ela completa seria “εξελθοντες” as bordas danificadas do manuscrito omitem a parte que esclareceria de forma clara a expressão “και νηστεια/e jejum” seguindo o texto sem essa expressão, o manuscrito omite somente a palavra “Κακειθεν/ e dali” ou seja, falta somente 11 letras perdidas na borda (3 letras finais da palavra oração e 8 desta ultima palavra)? O versículo anterior omitiu 22 letras perdidas na borda, é inconsistente dizer que dessa vez se perdeu somente 11 letras, entretanto, se acrescentarmos a expressão “και νηστεια” o manuscrito perde 21 letras, se tornando muito parecido com a linha anterior, sendo assim concluímos que este manuscrito defende o texto que afirma “e jejum”.

Vamos olhar uma transcrição de um manuscrito difícil de localizar, sua imagem não consta em nenhum site pesquisado, entretanto o aparato crítico em Mc 9.29 menciona ele, me refiro ao 0274, localizado em Londres, Reino Unido, guardado na Egypt exploration society.

1329 και ειπεν αυτοις τουτο 14 το γενος εν ουδενι 15 δυναται εξελθειν ει μη 16 εν προσευχη

O manuscrito é claro, não contém a expressão “e Jejum” e é datado do 5 século, é um importante manuscrito para o nosso estudo.

Entre os manuscritos analisados, podemos concluir que:

Sinaiticus, século IV não apoia o jejum.

B– Vaticanus, século IV não apoia o jejum.

0274- século V não apoia o jejum.

Itk- manuscrito Latino, século IV/V (o manuscrito não foi analisado acima) não apoia o jejum.

Geo1- Georgiana, século IX (o manuscrito não foi analisado acima) não apoia o jejum.

P45, 250 d.C, apoia o jejum para expulsar demônios.

W - Codex Washingtoniensis, IV apoia o jejum para expulsar demônios.

Dea - Bezae Cantabrigiensis, século V apoia o jejum para expulsar demônios.

C - Ephraemi Rescriptus, século V apoia o jejum para expulsar demônios.

A – Alexandrinus, século V apoia o jejum para expulsar demônios.

Os manuscritos acima, fora os analisados neste estudo, entretanto existe vários manuscritos que aparecem no aparato crítico e não foram analisados para o estudo não se tornar exaustivo.

F1- X-XIV

F13- XI-XV

A lista dos que apoiam é bem mais extensa, entretanto expus somente alguns.

Os manuscritos acima, consideram Mt 17.21 e Mc 9.29, pois ambos falam do jejum com a finalidade de expulsar demônios, não é sempre que os manuscritos se encontram completos para analisar os dois textos.

Antes de falarmos sobre o texto que possivelmente estava no autógrafo, vamos falar um pouco sobre as variantes, assim o leitor ampliara seu conhecimento sobre o tema.

Há dois tipos de variantes, involuntárias e intencionais, isso acontece porque copiar à mão gera erros.

Variantes involuntárias, era pelos motivos de erros de observação (1 Tm 3.16), ditografia ou haplografia (1 Ts 2.7), homeoarcton ou homeoteleuto (Lc 10.32 nó códice sinaítico) e os erros aconteciam pelo Iotacismo.

(Princípios de Interpretação Bíblica, VILSON SCHOLZ, Pg 44,45)

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, pg 93-96)

Variante intencionais, eram motivadas por motivos como; aprimoramento gramatical e estilístico (Ap 1.4), Harmonização de passagens paralelas (Lc 11 e Mt 6, oração do pai nosso), alterações por razões doutrinarias ou excesso de piedade (Jo 7.8), correção histórica e geográfica (Jo 19.14) e temos as alterações influenciadas pela liturgia ou do culto da igreja (Mt 28.20).

(Princípios de Interpretação Bíblica, VILSON SCHOLZ, Pg 46,47)

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, pg 96-103)

Os princípios utilizados para determinar os manuscritos que possivelmente remetem ao autografo são:

Evidência externa, deve ser valorizado a antiguidade do texto contido no manuscrito, os manuscritos devem ser avaliados ao invés de contados, precisamos considerar o grau de parentesco dos manuscritos entre si, precisamos observar a tradição indireta referente ao texto e se faz necessário levar em conta as influências externas sofridas pelo texto.

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, pg 149-151)

Evidência interna, deve-se preferir a variante mais difícil, precisa-se escolher a variante mais curta, a probabilidade da variante em desacordo estar correta é maior, deve-se decidir pela variante que melhor se harmonize com o livro em questão e devemos escolher a variante que melhor explique a origem das outras.

O códice Vaticano e Sinaítico são considerados os melhores manuscritos envolvendo os evangelhos, o que significa que o melhor manuscrito dos evangelhos em conjunto com o segundo melhor manuscrito dos evangelhos, concordam que a expressão “e jejum” não consta no texto examinado.

A antiguidade do texto contido no manuscrito é mais importante que a antiguidade do manuscrito, os textos que não apoiam o jejum, pertencem ao século IV e V com exceção de um texto Georgiano, datado do século IX, estes textos que trabalham contra o acréscimo são Alexandrino e ocidental.

O P45 é o único texto anterior aos códices que coloca o acréscimo, entretanto como examinamos acima, a expressão não pode ser vista, foi necessário contar as letras para afirmar que ele é a favor do acréscimo, o próprio aparato crítico, após sinalizar o P45 coloca subscrito (vid) este sinal significa que é a leitura mais provável de um manuscrito, que pelo seu estado de conservação, não permite verificação completa, o P45 é descrito por Bruce Metzger como um um intermediário entre o texto alexandrino e ocidental, tal papiro é um misto em sua visão, contribuindo para mostrar que as classes diferentes de manuscritos posteriores podem carregar características do autografo.

O fato do P45 ser mais antigo que os códices que testemunham contra o acréscimo, não sinaliza que o seu texto seja anterior a estes códices, um exemplo disso, podemos pegar a fala do Daniel Wallace, a qual ele compara o P75 (datado do início do terceiro século) e o códice Vaticano (século IV) e sua conclusão é; o texto do códice Vaticano é anterior ao texto do P75.

(The Early text of the new testment, Oxford, Charles E. Hill, Michaek J. Kruger, pg 7)

(Chapters in the history of the new testment Textual Criticism, Bruce M. Metzger pg 61)

(https://www.youtube.com/watch?v=SobqJ3ShDjs / 16:00-17-55 minutos do vídeo ao qual compara o Vaticano e o P75)

Sendo um misto, não podemos estabelecer ele em uma família exata, tornando difícil dizer uma tradição que mantém o acréscimo, sem dúvida a importância do P45 é fundamental para a crítica textual, entretanto, ele esta desprovido de manuscritos do IV século que concordem com ele, uma exceção é o códice Washingtoniensis, mas nem este podemos afirmar com certeza que é do século IV, existe claramente a possibilidade de ele pertencer ao século V, olhando a analise feita nele no texto de Mateus 17, percebe-se que ele diz que os Apóstolos eram infiéis e incrédulos (απιστιαν).

Escreve palavras que não se encontra em nenhum outro lugar do novo testamento, mesmo sem importância, acrescenta um nomina sacra referente a Jesus omitido em diversos manuscritos, mediante a isso tudo, será que ele é um apoio forte para defender o acréscimo? Mencionarei que este manuscrito acrescenta no final longo de Marcos uma interpolação apócrifa, comprovando que ele foi alterado, vale olhar o aparato crítico e ver no texto de Marcos as outras variantes que ele entra em desacordo, assim percebe-se a sua validade.

Olhando as evidências externas do texto, alguns especialistas apontam que a enfase no jejum foi acrescentada para a liturgia da igreja, o jejum era imposto como obrigação aos cristãos, isto possivelmente fez os escribas acrescentarem a expressão ao texto.

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, pg 99, 100)

(The Text of the New Testment, it’s transmitssion, corruption, and restoration, Bruce M. Metzger and Bart D. Ehrman, pg 268)

Sobre o tópico de evidência externa, podemos responder da seguinte forma as questões.

1- qual texto é o mais antigo?

Inconclusivo, o manuscrito mais antigo não carrega necessariamente o texto mais antigo, isso somente fortalece o argumento, o P45 é o que tem a datação mais antiga, entretanto ele fica sem suporte contra manuscritos importantes do séculos IV e V aos quais pertencem a tradição Alexandrina e ocidental, provavelmente eles remetem ao texto mais antigo.

2- resultado da avaliação dos manuscritos.

Os textos que omitem o acréscimo são melhores, em se tratando dos evangelhos, os manuscritos considerado melhores omitem o acréscimo, textos que trabalham a favor do acréscimo possuem problemas sérios, o codex Washingtoniensis é um exemplo claro, pois já mencionamos as dificuldades nele, o próprio P45 tem o problema de ser necessário contar e especular que a expressão “και νηστειαν” estava no texto, os outros códices são de um século depois, alguns estão ilegíveis (Ephraemi Rescriptus) outros que contém são muito tardios e contém muitas influências com o passar dos anos, se fosse por contagem, os manuscritos que apoiam o acréscimo ganharia sem dúvida, mas avaliamos a qualidade e não quantidade.

3- Grau de parentesco, tradições indiretas e influências externas.

As tradições que omitem são Alexandrinas e ocidentais, de acordo com o esquema desenvolvido em 1981 por Kurt Aland e Barbara Aland, os manuscritos Alexandrinos são de categoria I, imprescindíveis para determinar o autógrafo, os textos ocidentais são da categoria IV, eles contém os poucos manuscritos que seguem o códice Bezae.

Os manuscritos que apoiam o acréscimo são textos bizantinos (códex Alexandrinus, códex Ephraemi rescriptus e códex Washington) e ecléticos (F1 e F13) acrescentamos um misto (P45).

Os códices que testemunham a favor da omissão, em grande parte, são categorizados como Alexandrinos, os melhores enquanto a maior parte dos textos que apoiam o acréscimo são bizantinos e ecléticos, são importantes mas abaixo da categoria alexandrina, o único catalogado como misto é o P45, ao qual é difícil de estabelecer sua família e dizer sua importância.

Categorizando o Grau de parentesco no esquema desenvolvido por Kurt Aland, os manuscritos que omitem o acréscimo ao texto são superiores.

As tradições indiretas foram difíceis de encontrar, os Pais da igreja viam o jejum com diversas funções, listaremos de forma abreviada a serventia que eles atribuíam ao jejum:

A Didaque, ordenava que aqueles que fossem batizados, jejuassem por um ou dois dias.

(Patrística, padres apostólicos, editora Paulus, pg 162)

O jejum com a oração afim de ser revelado o sentido de um texto, descrito na segunda visão, atribuída ao pastor de hermas.

(Patrística, padres apostólicos, volume 1, editora Paulus, pg 84)

A carta de Barnabé, atribui e expande a prática de jejum a uma série de boas obras.

(Patrística, padres apostólicos, editora Paulus, pg 135)

Uma epístola do pseudo-Clemente aparentemente é a primeira a atribuir o Jejum e oração com o propósito de expulsar demônios, entretanto, tal obra já foi contestada por diversos eruditos e ela não pertence a Clemente.

(The Epistles of Clement, Works By and attributed to Clement of Rome, pg 66)

Orígenes cita o Jejum em conjunto com oração como auxilio para expulsar demônios.

O jejum começa a ganhar grande influência na igreja com o passar do tempo, percebemos que os copistas acrescentaram o jejum aos textos, a análise no Códex Sinaiticus nos fez perceber isso, pois ali é claramente acrescentado posteriormente.

Evidências internas:

A variante mais difícil sem dúvida pertence a omissão, na verdade, o próprio jejum acrescentado no texto é uma explicação para a falha dos discípulos, se retirar o jejum, o texto fica mais difícil de explicar e isso faz a omissão ser mais provável, os eruditos tem um consenso de que os escribas buscavam facilitar o texto original esclarecendo pontos obscuros, por esta razão o texto mais difícil se torna o mais provável.

(A critical and exegetical commentary on the gospel according to St. Mark, Gould Ezra Palmer, pg 171)

A variante mais curta pertence a omissão, logo é um ponto favorável a abolição do jejum destes textos.

A variante em desacordo se torna a mais provável, pois os escribas buscavam harmonizar os textos, por isso o verso 21 de Mateus foi acrescentado, é razoável acreditar que o escriba copiou o verso 21 de Marcos 9.29 a qual continha o texto inteiro, com exceção do jejum.

A variante que melhor se harmoniza em Mateus é a omissão, o escritor deixa bem claro que o motivo do demônio/doença não saiu por causa da fé pequena que eles tinham, o verso 17 e 20 deixa esclarecido o motivo, se dirigindo a Marcos, ambos se harmonizam muito bem, seja a falta pela falta de fé somada a oração, ou acrescentando o jejum.

A variante que melhor explique a origem das outras é motivo de grandes debates, entretanto a omissão parece explicar melhor a necessidade do acréscimo, sem o jejum acrescentado em Mc 9.29 o texto questionaria os discípulos na oração, pois estes não teriam tentado expulsar orando, ou fizeram uma oração sem fé, o texto acrescenta margem para uma dupla leitura.

O resultado das evidencias internas e externas, as quais somam 10 tópicos, encerraram assim:

Evidências externas concluem com 3 tópico a favor da omissão (avaliação dos manuscritos, grau de parentesco e influências externas) e 1 tópico foi inconclusivo (texto mais antigo) e outro tópico foi a favor do acréscimo (tradições indiretas).

Evidências internas concluem com 5 tópicos a favor da omissão e nenhum contra, agora entendemos o porque do texto não se encontrar na quinta edição do novo testamento grego com aparato crítico.

Convertendo em porcentagem, podemos afirmar, que existe 80% de chance do texto que omite o jejum estar correto e 20% de estar errado.

Olhando o aparato crítico, nos deparamos com essa expressão {A} ela indica os relativos graus de certeza para uma leitura adotada, variam dessa forma {A, B, C e D} a letra A representa a certeza da escolha para o texto, as letras seguintes diminuem esse grau de certeza.

Além dos críticos do novo testamento Grego, temos os seguintes estudiosos que concordam que a expressão “και νηστειαν” é um acréscimo:

Wilson Paroschi o cita como acréscimo.

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, pg 99, 100)

Archibald Thomas Robertson

(Comentário do novo testamento em Grego, A. T, Robertson, pg 158)

Bruce Manning Metzger

(A Textual commentary on the Greek new testment, Bruce M. Metzger pg 43, 101)

Bart Denton Ehrman

(Studies in the Textual Criticism of the new testment, Bart D. Ehrman pg 98)

(Bart D. Ehrman, O que Jesus disse? O que Jesus não disse? pg 107)

Fábio Sabino

Kurt Aland e Barbara Aland

(The text of the new testment: An introduction to the critical editions and to the theory and practice of modern textual criticism, Kurt Aland and Barbara Aland, pg 296)

Roger L. Omanson

(Variantes textuais do novo testamento, análise e avaliação do aparato crítico de “o novo testamento grego” pg 21, 82).

Daniel Wallace

Podemos concluir o seguinte nesse trabalho, Mateus 17.21 não faz parte do autografo, é um acréscimo feito pelos copistas, o objetivo era de concluir a história copiando o verso de Marcos 9.29. o qual o verso é autentico, entretanto, a crítica textual oferece indícios fortíssimos que o texto foi alterado, acrescentando a expressão “e jejum”. O escriba de Mateus copiou um texto que já tinha sido acrescentado, ele faz a cópia de um acréscimo posterior, este acréscimo induziu muitas pessoas a entenderem a prática do exorcismo de forma errônea, aqueles que aprenderam assim, transmitiram o ensino da mesma forma, entretanto a crítica textual revela que na prática de expulsar demônios, o jejum é indiferente, a escritura atribui outras funções ao jejum conforme vimos, fora essas duas interpolações, em nenhum local o jejum se torna ferramenta de expulsar demônios, a hipótese que os eruditos levantam, foi um acréscimo causado pela crescente importância do ascetismo verificada na igreja primitiva.

O antigo testamento não atribui essa finalidade ao jejum, culturas próximas não atribuem essa finalidade ao jejum e o texto pode ser compreendido como um jovem epilético que necessitava de cura, a atribuição de forças espirituais nesses casos eram comum.

Uma variante importante do texto foi απιστιαν - infidelidade e incredulidade, Ολιγοπιστιαν - pequenez de fé, fé escassa.

Conhecendo os métodos de critica textual, conclui-se que a variante mais próxima do original seja Ολιγοπιστιαν, Jesus afirmou que a fé dos apóstolos eram pequena, mas jamais falou que seria escassa.

Aparato crítico de Mt 17.21



A parato crítico de Mc 9.29


Referências bibliográficas:

(Comentário do novo testamento, Mateus, volume II, William Hendriksen, pg 252)

(Mateus, introdução e comentário, R.V. G. Tasker, série cultura Bíblica, pg 132-134)

(Comentário do novo testamento, William Barclay, pg 594-596)

(Evangelho de Mateus, comentário esperança, Fritz Rienecker, pg 199-201)

(Comentário bíblico NVI, antigo e novo testamento, F. F. Bruce pg 1591; 1619)

(Comentário Bíblico Africano, Tokunboh Adeyemo, pg 3529-3530)

(Comentário Bíblico Beacon, Mateus a Lucas, volume 6, CPAD, pg 124-126)

(Comentário Bíblico do novo testamento, Mathew Henry, CPAD, pg 221-223)

(Comentário Bíblico Vida Nova, D.A. Carson, pg 1131, 1177)

(Comentário histórico-cultural do novo testamento, Lawrence O. Richards, CPAD, pg 115-116)

(Comentário Bíblico básico do novo testamento, William MacDonald, pg 28, 61)

(O novo comentário da Bíblia, F. Davidson, Vida Nova, pg 1782, 1846)

(Comentário Bíblico Popular Kretzmann, Mateus a Lucas, pg 124-125)

(Comentário Bíblico Pentecostal, novo testamento, CPAD, pg 105, 246-248)

(Teach the text, commentary series, Mark, Grant R. Osborne, pg 450-464)

(Bible Commentary for english readers by various writers, pg 106-107)

(O Evangelho de Mateus, comentário expositivo, J. C. Ryle pg 175-177)

(John MacArthur, comentário do novo testamento, pg 952-959)

(Comentário expositivo, Marcos, Hernandes dias Lopes, pg pg 300-306)

(Comentário Bíblico Champlin, novo testamento, volume 1, Mateus e Marcos, pg 456-459)

(Comentário Bíblico Atos, novo testamento, /Craig S. Keener, pg 94, 165-166)

(Comentário Judaico do novo testamento, David H. Stern, Atos, 2008, pg 81, 120)

(Dicionário do grego do novo testamento, Carlo Rusconi, editora Paulus, pg 32, 280, 304, 173, 171, 63, 330)

(Léxico analítico do novo testamento grego, William D. Mounce, editora vida nova, pg 69, 381, 544, 410, 448)

(Liddel and Scott’s, A Greek-English lexicon, 1996 pg 60, 1590)

(Variantes textuais do novo testamento, análise e avaliação do aparato crítico de “o novo testamento grego” pg 21, 82).

(The text of the new testment: An introduction to the critical editions and to the theory and practice of modern textual criticism, Kurt Aland and Barbara Aland)

(Studies in the Textual Criticism of the new testment, Bart D. Ehrman)

(Bart D. Ehrman, O que Jesus disse? O que Jesus não disse?)

(A Textual commentary on the Greek new testment, Bruce M. Metzger)

(Comentário do novo testamento em Grego, A. T, Robertson)

(Crítica textual do novo testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova)

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(Patrística, padres apostólicos, editora Paulus)

(https://pt.qwe.wiki/wiki/Categories_of_New_Testament_manuscripts)

(https://pt.qwe.wiki/wiki/Byzantine_text-type)

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(Princípios de Interpretação Bíblica, VILSON SCHOLZ)

(Gramática do grego do novo testamento, James Swetnam, volume 1, editora Paulus)

(Psicologia no consultório odontológico, Sônia Wolf, Arte e Ciência editora)

(Subsídios para formação de Ministérios Extraordinários, Pe. Guillermo Daniel Micheletti, Editora vozes)

(J. Konings, A bíblia passo a passo, Marcos, Edições Loyola)

(Viagem aos céus e mistérios inefáveis: A religião de Paulo de Tarso,Sebastiana Maria Silva Nogueira, editora Paulus)

(Da Manjedoura A Emaús, Wesley Caldeira)

(Epilepsia en la niñez, Fernando Sell Salazar, Editorial Tecnológica de Costa Rica)

(Epilepsia, Lennart Gram, Mogens Dam, Editorial Medica panamericana)

(The Oxford Companion to the Bible, editado por Bruce M. Metzger, Michael David Coogan)

(Manual de Demonologia, 2 edição, Carlos Augusto Vailatti, fonte editorial, pg 114-141)

(História dos Hebreus, Flávio Josefo)

(Dicionário internacional de teologia do antigo testamento, R. Laird Harris, pg 1271-1273)

(Kohler Baumgartner, the Hebrew and Aramaic Lexicon of the old testment, pg 2208-2209)

(Léxico hebraico e aramaico do antigo testamento, William L. Holladay, vida nova pg 432)

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(Dicionário do grego do novo testamento, Carlo Rusconi, editora Paulus, pg 319)

(Léxico analítico do novo testamento grego, William D. Mounce, editora vida nova, pg 427)

(Léxico do novo testamento Grego/Português, F. Wilbur Gingrich, edições vida nova pg 140)

(https://hebdolatino.ch/br/portugues-br/41-internacional/2502-jejum-uma-pratica-milenar.html)

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Sidarta_Gautama)

(Dicionário Grego de strong, Grego/Inglês, pg 340)

(Alcorão, Al Bacará, pg 183-187)

(Bíblia Sacra, Vulgatae Editionis Sixti V. et Clementis VIII, Pontt. Maxx. Jussu Recognita Atque Edita, pg 1540)

(Dicionário do latim essencial, 2 edição revista e ampliada, Antônio Martinez de Rezende pg 190)

(https://pt.wikipedia.org/wiki/Epopeia_de_Gilgamesh)

(https://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/a-epopeia-gilgamesh-diluvio.htm)

(A epopeia de Gilgamesh, Martins Fontes, pg 73, 75, 107-108)

(Metalinguagem e discurso (2. ed.) Por Marli Quadros Leite, pg 82)

(Língua Portuguesa: Da Oralidade À Escrita, PG 79)

 
 
 

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